- Ano: 2014
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Fotografias:Héctor Santos-Diez
...construir em blocos de pedra...
Uma casa é queimada e restam apenas as recordações e um bloco de muros de pedra. Como dar a ela uma nova identidade, como fazer que a casa original de uma família de 11 irmãos, agora sua segunda residência, volte a ser o local de encontro para construir novas memórias?
O desafio reside em construir um refúgio com atmosferas diferentes e explorar todas as possibilidades desse bloco vazio. O programa é simples: dotá-la do maior número de dormitórios possível e do maior número de espaços de estar para o uso de pessoas e famílias com hábitos diferentes. A partir disso, a única premissa é o orçamento e nossa sensibilidade.
Propusemos que a casa gradue sua luz e suas atmosferas, um refúgio acolhedor e íntimo no piso de acesso, contínuo em paredes e tetos de madeira perpendiculares às janelas até o jardim e os anexos. A casa busca luz e vistas distantes no primeiro pavimento. As superfícies transformam-se em paredes pintadas e grandes portas de correr de madeira brancas. No térreo coberto está um pequeno estúdio recolhido com luz zenital e vistas diagonais. O concreto equilibra sua textura conforme olha-se para cima por conta da claraboia da cobertura.
A escada articula o programa, os cheios e os vazios. Sua implantação é marcada pelas aberturas existentes nas fachadas laterais e as vistas longitudinais permitidas. Serve como fundo das portas perpendiculares à fachada aberta. Este bloco deveria expandir-se e sair de seus limites em todos os seus pontos, buscando a paisagem.
Concreto, madeira, aço corten e vidro. O bloco de pedra articula-se em torno do muro central de concreto e envolve a casa e tem continuidade na escada. Os núcleos de armários definem os cômodos e ocultam todo o conjunto de portas de correr que permitem as vistas da paisagem a partir de cada ponto dos dormitórios para além de suas janelas.
A casa abre-se ao jardim interno, além de abrir-se às vistas distantes, a galeria de madeira original desaparecida transforma-se em um grande vidro com estruturas de aço corten. Parte dos muros são reconstruídos recuperando o ritmo de aberturas da fachada de frente para a rua e outros abrem-se totalmente ao jardim. Combina-se a argamassa de cal com os planos de pedra aparente.
Arquitetura sóbria de luz e superfícies. Um detalhe da história de um lar e seus donos, o conjunto de registros do vidoeiro no interior. Uma lembrança do pouco que sobrou de uma porta de castanheira transformada em um móvel de centro.
O incêndio destruiu uma centena de livros, móveis e memórias. Nosso trabalho? Construir o palco para voltar a preencher a casa com uma centena de livros, móveis e memórias.